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Domingo, 10 de fevereiro de 2008, 02h10

Mangueira deve buscar forças na comunidade

Élcio Braga

Para quem chegou ao fundo do poço, o jeito é se apegar às raízes na volta ao topo. Depois do trágico décimo lugar no Grupo Especial do Rio - o pior resultado em 25 anos de Sambódromo -, a Mangueira promete buscar forças na comunidade. É a receita que a Verde-e-Rosa pretende seguir e enterrar de vez o papo de que tenha se elitizado. Superescola S/A, tudo bem, mas com sangue verde e rosa.

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Quem foi aos badalados ensaios de sábado acostumou-se a esbarrar em garotões e patricinhas da Zona Sul carioca, além de uma penca de turistas. A entrada na reta final custava R$ 25.

A coroa da rainha da bateria caiu há dois anos na cabeça de famosos. Ano passado, na da cantora Preta Gil e este ano na da dançarina marombada Gracyanne Barbosa, a namorada do pagodeiro Belo. A última indicada da comunidade foi no desfile de 2006. Reinou a funcionária de banco Jackeline Nascimento, nascida e criada no Morro da Mangueira.

O coração da escola, a bateria, estava fora do tom nos últimos dez anos. Jorge Costa de Oliveira, o Mestre Taranta, que assumiu a batuta dois meses antes do desfile, diz que muitos componentes estavam com dificuldade de bater no ritmo tradicional da escola.

A atual direção da agremiação reconhece a necessidade de investir na comunidade. "Vamos começar tudo de novo. E um dos caminhos é fortalecer a comunidade", acredita o diretor de Carnaval, Celso Rodrigues. Ele nega a elitização. "É besteira muito grande dizer que a escola se afastou do povão. É a única dentro da própria comunidade. Setenta por cento dos 4.200 componentes são daqui, a mesma parcela dos últimos anos", observa.

A escola rebate a crítica de que o ingresso a R$ 25, cobrado na quadra nos ensaios de sábado, afastou admiradores menos afortunados. "A comunidade não paga. É só apresentar carteirinha na porta. Há entrada exclusiva", frisa Celso.

O diretor de Esportes e Desenvolvimento Social, Francisco de Carvalho, o Chiquinho, questiona a versão de que a escola naufragou por ter se distanciado da comunidade. Para ele, o grande culpado pelo péssimo resultado foi a chuva: "Fomos 4º lugar em 2006 e 3º no ano passado. Demos azar de pegar temporal. Se não fosse isso, estaríamos entre as seis primeiras". Na hora de sugerir a solução, Chiquinho não tem dúvidas: "A Mangueira deve investir mais em comunidade, comprovadamente é o que segura."

Para a presidente do Centro Cultural Cartola, Nilcemar Nogueira, a escola não é a mesma de 10 anos atrás. "Não temos o mesmo chão. Mas estamos agora como nos últimos anos", diz a neta de Dona Zica e Cartola. Para ela, a derrota não se deve a este detalhe. "Não acho que se tenha distanciado da comunidade", defende ela.

Para os diretores da escola, o mau resultado se deve mais à turbulência às vésperas do Carnaval. "É claro que toda essa campanha nos abalou muito e criou clima ruim. Mal ou bem, o jurado não fica alheio a isso tudo", destaca o diretor de Carnaval, Celso Rodrigues.

A confusão começou com a renúncia do presidente Percival Pires após homenagear um traficante, a acusação de venda do posto de rainha de bateria e as brigas do então presidente da bateria, Ivo Meirelles, culminando com a descoberta de passagem secreta na quadra usada por bandidos. Além disso, um dos autores do samba deste ano é Francisco de Paula Testas Monteiro, o Tuchinha, ex-chefe do tráfico e que está foragido.

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