Há 53 anos, quando o carpinteiro Jaime Santos Trindade chegou à Beija-Flor, os carros alegóricos não tinham mais do que cinco metros de comprimento e vinham de caminhão, de Nilópolis, para a Praça 11. Aos 76 anos, Seu Bahia, como é chamado, ainda está no barracão, formando aprendizes e contando a história do samba às novas gerações. Na Azul-e-Branca, a valorização da comunidade vai além das três mil fantasias distribuídas. Os carnavais passam, mas um contingente que dedica a vida à conquista de campeonatos continua.
"Em 1955, as outras queriam nos tirar do desfile. Diziam que nós éramos bonitos demais para desfilar com elas", relembra Bahia, que é compositor e não perde uma disputa de samba-enredo na quadra.
Há mais de 20 anos no barracão, o porteiro Valter Félix, 69 anos, e o chefe do almoxarifado Mauro Francisco da Silva, 47 anos, trabalham o ano todo para assistir ao desfile pela TV. "Fico de prontidão 24 horas no dia do desfile, caso precisem de algum material. Mas a estrutura aqui é tão organizada que quase não me pedem nada", conta Mauro.
No colo do pai, o ajudante de ferreiro Paulo Roberto Quirino, os futuros sambistas Patrick, 3 anos, e Paulo, 1 ano, se impressionam com a grandiosidade da alegoria da Fortaleza de Mazagão, sem saber que o esforço do pai está ali, coberto por veludo e 150 mil pedras brilhantes. "A escola investe no funcionário, enquanto outras contratam empreiteiros temporários. Acho que 90% do sucesso na Avenida vem dessa organização", diz o ferreiro, que está há 23 anos na agremiação.
A família Beija-Flor dá show por toda parte. Que o diga o intérprete Neguinho, que faz coro na Avenida com a irmã Tina Flor, a sobrinha Kithy Flor e os filhos Ângela e Luiz Antônio Júnior. O filho mais velho, Paulo Cesar, o PC, toca caixa na bateria de mestre Paulinho. "Fiz da Beija-Flor a extensão da minha família", atesta.
Tina criou os filhos no samba. "Minha filha de 34 anos tem o mesmo tempo que eu de escola: 32 anos. Meus netos crescem correndo pela quadra junto com os de Soninha Capeta (passista) e o filho do Anísio (patrono da escola)", conta Tina.
Avó de três netos, de 11, 6 e 4 anos, a ex-rainha de bateria Soninha Capeta prevê um futuro brilhante para a caçula na escola. "Minha netinha é um arraso, pequenininha, mas tem uma malemolência incrível", garante a destaque, para quem os laços na Azul-e-Branca são muito fortes. Depois do desfile, Soninha voltou correndo para o barracão, onde ajudou os músicos a encapar os instrumentos para o Desfile das Campeãs, este sábado.
Filho da porta-bandeira Selminha Sorriso, Igor, 7 anos, já sonha com o futuro na Avenida. "Não quero ser mestre-sala. Por enquanto eu tenho vergonha, mas vou estudar na escola de passistas", conta.
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